25 junho 2007

Aparição Amorosa

Doce fantasma, por que me visitas
como em outros tempos nossos corpos se visitavam?
Tua transparência roça-me a pele, convida
a refazermos carícias impraticáveis: ninguém nunca
um beijo recebeu de rosto consumido.
Mas insistes, doçura. Ouço-te a voz,
mesma voz, mesmo timbre,
mesmas leves sílabas,
e aquele mesmo longo arquejo
em que te esvaías de prazer,
e nosso final descanso de camurça.

Então, convicto,
ouço teu nome, única parte de ti que não se dissolve
e continua existindo, puro som.
Aperto... o quê? a massa de ar em que te converteste
e beijo, beijo intensamente o nada.
Amado ser destruído, por que voltas
e és tão real assim tão ilusório?
Já nem distingo mais se és sombra
ou sombra sempre foste, e nossa história
invenção de livro soletrado
sob pestanas sonolentas.
Terei um dia conhecido
teu vero corpo como hoje o sei
de enlaçar o vapor como se enlaça
uma idéia platônica no espaço?

O desejo perdura em ti que já não és,
querida ausente, a perseguir-me, suave?
Nunca pensei que os mortos
o mesmo ardor tivessem de outros dias
e no-lo transmitissem com chupadas
de fogo aceso e gelo matizados.

Tua visita ardente me consola.
Tua visita ardente me desola.
Tua visita, apenas uma esmola.

Carlos Drummond de Andrade

19 junho 2007

Momentos de boa vontade


Depois da OPA ao Benfica para ajudar o clube, desculpem, "dar cultura" ao clube, Joe Berardo vai lançar uma OPA à Papelaria Fernandes (cotada em bolsa) para ajudar a papelaria. Joe Berardo não quer que abusem do Benfica e certamente não quererá que abusem da Papelaria Fernandes.

Para mostrar a sua generosidade, Joe quer recuperar a "marca reconhecida internacionalmente".

"Como se diz em África: cada macaco no seu galho".


Helloooooooooo...


17 junho 2007

Hoje em dia


Uns só procuram a felicidade, seja qual lhe for o preço. Seja o que isso for e o que significa. Outros tentam sobreviver. Muitos aliás. O preço que lhes é pedido é alto demais. Para comer. Os restantes, a maioria, portanto, vão indo. Conforme o tempo, conforme os dias, conforme a noite passada.

Pasmaceira tremenda que a preguiça abraça e nos tapa os olhos como que para adivinhar: A felicidade depende da sobrevivência. Só o simples facto da sobrevivencia traz felicidade. No sorriso, no toque, no olhar!

Mas quando o conceito de felicidade ultrapassa a noção de sobrevivência, vamos simplesmente indo. Começamos a entrar em decadência.

Um amanhã destes vos direi.

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