11 fevereiro 2006

Poesia cantada


Espectáculo

Quando
Tu me vires no futebol
Estarei no campo
Cabeça ao sol
A avançar pé ante pé
Para uma bola que está
À espera dum pontapé
À espera dum penalty
Que eu vou transformar para ti

Eu vou
Atirar para ganhar
Vou rematar
E o golo que eu fizer
Ficará sempre na rede
A libertar-nos da sede

Não me olhes só da bancada lateral
Desce-me essa escada e vem deitar-te na grama
Vem falar comigo como gente que se ama
E até não se poder mais
Vamos jogar

Quando
Tu me vires no music-hall
Estarei no palco
Cabeça ao sol
Ao sol da noite das luzes
À espera dum outro sol
E que os teus olhos os uses
Como quem usa um farol

Não me olhes só dessa frisa lateral
Desce pela cortina e acompanha-me em cena
Vamos dar à perna como gente que se ama
E até não se poder mais
Vamos bailar

Quando (quando!)
Tu me vires na televisão
Estarei no écran
Pés assentes no chão
A fazer publicidade
Mas desta vez da verdade
Mas desta vez da alegria
De duas mãos agarradas
Mão a mão no dia a dia
Não me olhes só desse maple estofado
Desce pela antena e vem comigo ao programa
Vem falar à gente como gente que se ama
E até não se poder mais
Vamos cantar

E quando
À minha casa fores dar
Vem devagar
E apaga-me a luz
Que a luz destoutra ribalta
Às vezes não me seduz
Às vezes não me faz falta
Às vezes não me seduz
Às vezes não me faz falta...

Sérgio Godinho, Campolide

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